O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa – os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Europa – os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Trata-se de um poema que afirma uma filosofia sobre o homem
e o viver. Para o poeta, e retomando o que vinha dizendo desde a 1º parte, a
única coisa que faz sentido na vida é o sonho (...) sem o sonho, capaz de
remover montanhas, a vida é triste, ainda que no conforto sensato do lar.
Prosseguindo, nesta espécie de introdução, constituída pelas duas primeiras
quintilhas, o poeta reincide no oximoro, ao afirmar: “Triste de quem é
feliz!”.
NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo - fátuo encerra.
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo - fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer,
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!
Valete, Frates
O poema aponta para um
tom geral de disforia, de tristeza e melancolia, marcado por palavras e
expressões de negatividade, caracterizando uma situação de crise a vários
níveis: político “Nem rei nem lei, nem paz nem guerra” (repare-se na
sucessão do advérbio de negação – nem); crise de identidade, também “este
fulgor baço da terra/ que é Portugal a entristecer/ brilho sem luz e sem arder/
como o que o fogo-fátuo encerra” (note-se o vocabulário e imagística
disfórica: fulgor baço – Portugal a entristecer – brilho sem luz e sem
arder – novo oximoro reforçado pela proposição, marca de ausência, sem);
crise de valores morais, da alma “Ninguém sabe que coisa quer,/ ninguém
conhece que alma tem,/ nem o que é mal, nem o que é bem” (de novo as
palavras que marcam a negação – os pronomes indefinidos ninguém, o
advérbio nem).
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