segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Estado novo e a Censura


Com o tema da censura a ser suscitado por aí, falemos do tempo em que ela existia.

A censura, no tempo do Estado Novo, era uma atividade que o regime tinha colocado nas mãos dos militares. Em Lisboa, eram famosos os "coronéis" que, dia-a-dia, se dedicavam a assinalar, a lápis azul, aquilo que, nos textos da imprensa, entendiam como podendo ofender os seus mestres ou os costumes oficialmente protegidos.

Na província, a "Comissão de Censura" (depois, com Marcelo Caetano, passou ao eufemismo de "Exame Prévio") tinha também os seus militares. Em Vila Real, era o  velho capitão Medeiros.

No final dos anos 60, já na universidade, comecei a publicar alguns artigos em "A Voz de Trás-os-Montes", um jornal local ligado à diocese, que ainda existe. Iniciei-me na escrita desportiva mas, na "primavera marcelista", ousei entrar pela política interna. Os textos eram muito rebuscados, cheios de duplas leituras, só acessíveis a alguns "happy few", um pouco à moda do que então lia no "Diário de Lisboa", no "República" ou na "Seara Nova". Agora, ao revê-los, fica patente a sua total inocuidade, garantida pelo reduzidíssimo número de potenciais leitores, afastados pelo caráter quase impenetrável da escrita. 
 
Por uma ou duas vezes, o capitão Medeiros ironizou com o meu Pai sobre as minhas "ideias avançadas", expressão para designar tendências esquerdistas que pressentia nas entrelinhas. Ao diretor do jornal, o padre Henrique Maria dos Santos, o nosso censor local passou também algumas mensagens de aviso, no sentido de eu me "deixar de espertezas". Lá fui, contudo, continuando a escrever, com algum cuidado mas sempre sem grandes obstáculos. Aliás, o capitão Medeiros deve ter ficado menos preocupado quando, a partir de certa altura, passei a dedicar-me apenas a temas de política internacional. Até um dia!

O tema era a Rodésia e eu analisava os problemas entre o Reino Unido e o independentismo branco de Ian Smith, bem como as polémicas entre a ZAPU e a ZANU. O texto era algo hermético, com muitos e dispensáveis detalhes, que eu tinha bebido na imprensa internacional. (Com os diabos! Só temos 20 anos uma vez!)

Uma tarde, o capitão Medeiros encontrou o meu Pai na rua Direita, esse eixo de Vila Real, e deu-lhe os parabéns: "Parece que o seu filho está a entrar no bom caminho! Escreveu um bom artigo sobre a Rodésia!". O meu Pai, que ainda não tinha lido o texto, conhecendo-me bem, estranhou, mas agradeceu o elogio.
 
Dias depois, o diretor do jornal, à porta da Gomes (essa pastelaria mítica da cidade), disse-me: "O capitão Medeiros está furioso. Afirma que você o enganou com o texto sobre a Rodésia. Levou uma advertência dos serviços centrais da censura, em Lisboa. Já me disse que, por este caminho, não o deixa publicar mais nada".

O que acontecera? O pobre do capitão Medeiros deixara-se "enrolar" nas minhas considerações e, em especial, permitira a última e fatal frase que eu incluíra no texto: "Ou muito me engano ou a Rodésia tem à sua frente um futuro negro". 

A quatro décadas de distância, eu estava longe de imaginar que, por detrás da procurada ambiguidade da minha frase, acabaria por residir uma triste e insuspeitada presciência...

Elementos simbólicos


felizmente há luar - Elementos simbólicos

Saia verde: A saia associa-se à felicidade e foi comprada numa terra de liberdade: Paris. No Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas. "alegria no reencontro"; a saia é uma peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à esperança de que um dia se reponha a justiça. O verde é a cor predominante na natureza e dos campos na Primavera, associando-se à força, à fertilidade e à esperança.

A luz - como metáfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade, fraternidade e liberdade), que possibilita o progresso do mundo, vencendo a escuridão da noite (opressão, falta de liberdade e de esclarecimento), advém quer da fogueira quer do luar. Ambas são a certeza de que o bem e a justiça triunfarão, não obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se a luz se encontra associada à vida, à saúde e à felicidade. A luz representa a esperança num momento trágico.

Noite - Simboliza a escuridão, a morte, a tristeza,

 O fogo - É um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela do fogo. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade.

Moeda de cinco reis - Símbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus.

 Tambores – representa a presao, o medo, que existia nesse tempo quando chegava a policia.

Características das personagens


Felizmente Há Luar!  - Caracterização das personagens

D. Miguel Forjaz
Prepotente; autoritário; servil (porque se rebaixa aos outros); deixou-se corromper pelo
poder.
“Não sou, e nunca serei, popular. Quem o for é meu inimigo pessoal.”
Simboliza a decadência do país que governa;
 A hipocrisia e a mesquinhez são as suas principais características;
 Enquanto governador de Lisboa, representa o espírito decrépito e caduco que impede
a evolução do país e condiciona a sua existência enquanto nação.

Principal Sousa
Defende o obscurantismo do povo para que os tiranos governem livremente;
Deformado pelo fanatismo religioso; 
Desonesto;
Representante do poder eclesiástico.

Beresford
 Cinismo em relação aos portugueses, a Portugal e à sua situação;
Trocista e mordaz, despreza o país onde é obrigado a viver;
Oportunista; autoritário; é bom militar; 
 Preocupa-se somente com a sua carreira e com dinheiro; 
Ainda consegue ser minimamente franco e honesto, pois tem a coragem de dizer o
que realmente quer, ao contrário dos 2 governadores portugueses;
Odeia Gomes Freire, não porque o afronte enquanto oficial, mas porque o incomoda
enquanto herói do povo.

Vicente
Traidor para ser promovido;
Acaba por ser um delator que age dessa maneira porque está revoltado com a sua
condição social (só desse modo pode ascender socialmente);
Representa a hipocrisia e o oportunismo daqueles que não olham a meios para atingir
os seus fins;
Reveste-se de um falso humanismo e de uma solidariedade duvidosa, para fomentar
a ira popular contra Gomes Freire.

Manuel
O mais consciente dos populares; 
É corajoso;
 Representa, metaforicamente, o povo português. Coexistindo com a miséria e a fome,
protagoniza a consciência de um povo vilipendiado pela opressão, manifestamente
impotente para alterar o seu destino.

Sousa Falcão
Representa a amizade e a fidelidade;
 É o único amigo de Gomes Freire de Andrade que aparece na peça; 
 Ele representa os poucos amigos que são capazes de lutar por uma causa e por um
amigo nos momentos difíceis;
Representa a impotência perante o despotismo dos governadores.

Frei Diogo Melo
‚ Homem sério; 
‚ Representante do clero; 
‚ Honesto – é o contraposto do Principal Sousa.

Matilde de Melo
 Representa uma denúncia da hipocrisia do mundo e dos interesses que se instalam
em volta do poder (faceta/discurso social);
 Por outro lado, apresenta-se como mulher dedicada de Gomes Freire, que, numa
situação crítica como esta, tem discursos tanto marcados pelo amor, como pelo ódio;
Carácter forte; corajosa perante a vilania;
‚ Recusa a hipocrisia e odeia a injustiça e o materialismo.
Gomes Freire de Andrade 
‚ Personagem virtual;
‚ Defensor do povo oprimido; 
‚ O herói (no entanto, ele acaba como o anti-herói, o herói falhado); 
‚ Símbolo de esperança de liberdade.
Representa, simbolicamente, a integridade e a recusa da subserviência, a sua
capacidade de liderança e os exemplos de coragem na defesa dos seus ideais
remetem para o Portugal do passado, para o período áureo da Nação, que assumia
convictamente a justiça da sua identidade e a veracidade da sua luta pela liberdade.

Populares 
Representantes do povo oprimido, sobre o qual era exercida a violência, funcionam
como coro. As suas falas denunciam a pobreza e a ironia é a sua arma.

• Estrutura interna e estrutura externa de Felizmente há luar


Estrutura Externa

A obra apresenta dois actos, não se encontrando, todavia, dividida em cenas. Referindo-se à organização bipolar da obra, José de Oliveira Barata afirma o seguinte: «Expressando-se dicotomicamente, mas evitando os prejuízos de uma apresentação maniqueísta, Sttau Monteiro transferia para a realidade cénica o verso e o reverso da complexa realidade sociopolítica que o país vivia.»

Estrutura Interna

«Felizmente há luar!» evoca uma época histórica em que ocorre um facto também ele histórico e protagonizado por uma figura histórica: a conspiração abortada de 1817 e na qual se destaca o general Gomes Freire de Andrade.
O conflito da peça nasce da oposição existente entre as “forças do futuro”, cuja figura central e emblemática é o referido General, símbolo da mudança, do progresso, da luta pela liberdade, e as “forças do passado”, representadas por Beresford, Principal Sousa e D. Miguel.
Verifica-se um paralelismo na construção dos dois actos: ambos iniciam com os monólogos patéticos de Manuel «o mais consciencioso dos populares» e símbolo do povo consciente e crítico. No acto I, as falas subsequentes ao monólogo transmitem informações relativas ao contexto histórico e, posteriormente, no acto II, reiterar-se-ão os aspectos já apresentados anteriormente.
Acto I
Acto II
O General está em sua casa, “para os lados do Rato”.(p. 38)
O General está preso no forte de S. Julião da Barra. (p.101)
As forças do poder agem maquiavelicamente, preparando, de uma forma hábil e desleal, a prisão do General.
antipoder/ resistência: confronto entre a sensibilidade e o poder.
Matilde e Sousa Falcão movem esforços no sentido de libertar o General.
clímax atinge-se no diálogo de Matilde e o Principal Sousa.
A execução dos conspiradores, destacando-se a do General, provoca a intensificação da luta contra a opressão do regime absolutista/ salazarista e a vitória da Revolução liberal de 1820/ 25 de Abril de 1974.
A acção dramática concentra-se predominantemente na esfera político-social.
A acção dramática situa-se predominantemente na esfera doíntimo e afectivo.
Predomínio de personagens da esfera do político-social e do exterior.
Os governantes, as vozes mais marcantes do poder: D. Miguel Forjaz, o representante da nobreza/ absolutismo; marechal Beresford, o representante do domínio britânico sobre Portugal; Principal Sousa, o representante do clero/ Igreja.
Os populares, «o pano de fundo permanente da peça», anseiam e lutam por uma sociedade mais justa e mais livre; procuram alguém que os liberte da «protecção» dos ingleses e da tirania da regência,, considerando o General o único capaz de concretizar os seus objectivos. Destacam-se Manuel, Rita e o Antigo Soldado.
Predomínio de personagens que se relacionam com o universo afectivo de Gomes Freire, o verdadeiro protagonista e elemento de ligação de toda a obra: a resistência e sensibilidade manifestam-se em Matilde de Melo e Sousa Falcão, que tentam salvar o General e obter o seu perdão. Frei Diogo, o confessor do General, é o oposto do Principal Sousa.
povo encontra-se desanimado e sente que a luta está perdida, parecendo que ainda estão pior do que antes.
Os traidores do povo, Vicente, Andrade Corvo, Morais Sarmento e as forças da ordem, dois polícias, são os oponentes do povo, pois não revelam escrúpulos e são hipócritas. Denunciam a conjura e contribuem para a prisão e posterior execução do General.
As forças da ordem assumem o papel de defensores da ordem pública e dispersam o povo.
Destaca-se a figura de Vicente, provocador, agitador, delator, espião e acusador. O seu objectivo é denegrir a imagem de prestígio do General, vigia a sua casa e confirma a existência de reuniões, indicando o nome dos conspiradores. Denuncia o General, uma vez que é ambicioso e espera obter uma recompensa.
Vicente é recompensado pelo seu acto e assume novas funções como chefe da polícia.
O acto termina com a decisão de fazer matar o General.
“A apoteose trágica” – o quadro final: a execução do General e o “hino de louvor” à coragem e à ousadia. A revolta e a tristeza dão lugar à esperança num futuro melhor. Matilde afirma que «Felizmente há luar!», devendo a luz vencer a escuridão, a noite e a opressão.

Teatro épico


O teatro épico é produto do forte desenvolvimento teatral na Rússia, após a Revolução Russa de 1917, e na Alemanha, durante o período da República de Weimar, tendo como seus principais iniciadores o diretor russo Meyerhold e o diretor teatral alemão Erwin Piscator. Nesse tempo, as cenas épicas alemãs recebiam o nome de cena Piscator, dado o extensivo uso de cartazes e projeções de filmes nas peças dirigidas por Piscator. No entanto, o grande propagandista do teatro épico foi Bertolt Brecht.
O crítico norte-americano Norris Houghton afirma que Brecht e Piscator aprenderam o teatro épico de Meyerhold e que nós o conhecemos através de Brecht.

Característica do texto Dramático


Características do Texto Dramático


É constituído por:
Texto principal composto pelas falas dos actores que é ouvido pelos espectadores;
Texto secundário (ou didascálio) que se destina ao leitor, ao encenador da peça ou aos actores.
É composto:
pela listagem inicial das personagens;
pela indicação do nome das personagens no início de cada fala;
pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou quadros);
pelas indicações sobre o cenário e guarda roupa das personagens;
pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras;

 Acção – é marcada pela actuação das personagens que nos dão conta de acontecimentos vividos.
 Estrutura externa – o teatro tradicional e clássico pressupunha divisões em actos, correspondentes à mutação de cenários, e em cenas e quadros, equivalentes à mudança de personagens em cena.
O teatro moderno, narrativo ou épico, põe completamente de parte as normas tradicionais da estrutura externa.
 Estrutura interna:
Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.
Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.
Desenlace – desfecho da acção dramática.
 Classificação das Personagens:
* Quanto à sua concepção:
Planas ou personagens-tipo – sem densidade psicológica uma vez que não alteram o seu comportamento ao longo da acção. Representam um grupo social, profissional ou psicológico);
Modeladas ou Redondas – com densidade psicológica, que evoluem ao longo da acção e, por isso mesmo, podem surpreender o espectador pelas suas atitudes.
* Quanto ao relevo ou papel na obra:
protagonista ou personagem principal Individuais
personagens secundárias ou
figurantes Colectivas

Tipos de caracterização:
Directa – a partir dos elementos presentes nas didascálias, da descrição de aspectos físicos e psicológicos, das palavras de outras personagens, das palavras da personagem a propósito de si própria.
Indirecta – a partir dos comportamentos, atitudes e gestos que levam o espectador a tirar as suas próprias conclusões sobre as características das personagens.

Espaço – o espaço cénico é caracterizado nas didascálias onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som. Coexistem normalmente dois tipos de espaço:
Espaço representado – constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco.
Espaço aludido – corresponde às referências a outros espaços que não o representado.
 Tempo:
Tempo da representação – duração do conflito em palco;
Tempo da acção ou da história – o(s) ano(s) ou a época em que se desenrola o conflito dramático;
Tempo da escrita ou da produção da obra – altura em que o autor concebeu a peça.
Discurso dramático ou teatral:
Monólogo – uma personagem, falando consigo mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos;
Diálogo – falas entre duas ou mais personagens;
Apartes – comentários de uma personagem que não são ouvidos pelo seu interlocutor.
Além deste tipo de discurso, o tecto dramático pressupõe o recurso à linguagem gestual, à sonoplastia e à luminotécnica.
 Intenção do autor - pode ser:
Moralizadora;
Lúdica ou de evasão;
Crítica em relação à sociedade do seu tempo;
Didática.
 Formas do género dramático:
Tragédia
Comédia
Drama
Teatro Épico.

Outras características:
Ausência de narrador.
Predomínio do discurso na segunda pessoa (tu/vós).

William Beresford


Conhecido por Principal Sousa, D. José António de Meneses e Sousa Coutinho, durante a ausência do Rei D. João VI,no Brasil, fez parte da Regência do Reino até ao pronunciamento de 24 de agosto de 1820.
Era irmão do Ministro do Rei, D. Rodrigo de Sousa Coutinho,  Conde de Linhares, e do conde do Funchal, Domingosde Sousa Coutinho, embaixador em Londres, que negociou a ajuda inglesa contra os invasores franceses. 
Personagem na peça de teatro Felizmente  Luar! de Sttau Monteiro, é ao primeiro destes irmãos que se refere,quando afirma: "Agora me lembro de que  anos, em Campo d'Ourique, Gomes Freire prejudicou muito a meu irmãoRodrigo" (Ato I, p.72).
Representante do Clero na Regência com D. Miguel Forjaz e com o General Beresford, o Principal Sousa reconheceque Portugal necessitava do regresso do Rei, como o demonstra em carta de 1 de junho de 1817, quando diz "só aReal Presença dará a felicidade a este Povo e poderá regenerar esta Nação que não aspira por outra fortuna que ade ver Vossa Majestade". 
Na peça Felizmente  Luar!, que realça o movimento revolucionário de 1817, o Principal Sousa é um fanático,corrompido pelo poder eclesiástico, que odeia os Franceses porque "transformaram esta terra de gente pobre masfeliz, num antro de revoltados!". A certa altura, afirma, preocupado, que "por essas aldeias fora é cada vez menor onúmero dos que frequentam as igrejas e cada vez maior o número dos que  pensam em aprender a ler…".

D. Miguel Forjaz (Nobreza)


Miguel Pereira Forjaz Coutinho Barreto de Sá, conde da Feira (1 de novembro 1769 — Lisboa, 6 de novembro 1827), foi um político português.
Filho de Diogo Pereira Forjaz Coutinho (1726-?), e de Luisa Teresa Antónia da Camara e Menezes (1745?-?).
Miguel Pereira Forjaz Coutinho Barreto de Sá Em 1808 foi promovido a marechal de campo, e em 1812 a tenente general. Por decreto de 13 de Maio de 1820 recebeu a mercê do título de conde da Feira, e em 1826 foi eleito par do reino, por ocasião da outorga da Carta Constitucional.

Módulo 11

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O Sebastianismo e a "Mensagem"


O Sebastianismo é a crença que D. Sebastião não morrera em Alcácer-Quibir e voltaria em breve, para reclamar o trono que lhe pertencia.
Na obra Frei Luís de Sousa é feita uma critica, através do Sebastianismo, ao Portugal da época, isto é, através das personagens Telmo e Maria, que representam o Portugal Velho, aquele que Almeida Garrett pretendia criticar, como um país que acredita profundamente que aquilo que deseja um dia vai acontecer, mas simultaneamente fica à espera que aconteça sem implicação da sua responsabilidade. Não faz nada para mudar qualquer situação em que se possa encontrar, limitando-se a esperar que alguém faça por "ele".Por outro lado, através da personagem Manuel de Sousa Coutinho, Garrett faz alusão ao Portugal Novo, aquele que o escritor defende e deseja... um Portugal futurista, moderno e prometedor, que perante situações desagradáveis e consideradas injustas, luta para as mudar, que ao contrário do Portugal Velho, não coloca a mudança na mão de outrem... fá-lo de forma convicta, desafiando o que quer que seja.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Poemas da 3º parte da mensagem


O QUINTO IMPÉRIO

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,
Europa – os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?

Trata-se de um poema que afirma uma filosofia sobre o homem e o viver. Para o poeta, e retomando o que vinha dizendo desde a 1º parte, a única coisa que faz sentido na vida é o sonho (...) sem o sonho, capaz de remover montanhas, a vida é triste, ainda que no conforto sensato do lar. Prosseguindo, nesta espécie de introdução, constituída pelas duas primeiras quintilhas, o poeta reincide no oximoro, ao afirmar: “Triste de quem é feliz!”.

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo - fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer,
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!

                   Valete, Frates


O poema aponta para um tom geral de disforia, de tristeza e melancolia, marcado por palavras e expressões de negatividade, caracterizando uma situação de crise a vários níveis: político “Nem rei nem lei, nem paz nem guerra” (repare-se na sucessão do advérbio de negação – nem); crise de identidade, também “este fulgor baço da terra/ que é Portugal a entristecer/ brilho sem luz e sem arder/ como o que o fogo-fátuo encerra” (note-se o vocabulário e imagística disfórica: fulgor baço – Portugal a entristecer – brilho sem luz e sem arder – novo oximoro reforçado pela proposição, marca de ausência, sem); crise de valores morais, da alma “Ninguém sabe que coisa quer,/ ninguém conhece que alma tem,/ nem o que é mal, nem o que é bem” (de novo as palavras que marcam a negação – os pronomes indefinidos ninguém, o advérbio nem).





Poemas da 2º parte da mensagem


"Mar Português"

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Reflexão:
Este poema compara-se com o episódio “despedida das naus em Belém” de “Os Lusíadas” pois as lágrimas de Portugal que tornaram salgados o mar, são as mesmas que os familiares choraram perante a partida dos marinheiros para a aventura marítima.


"O Infante"

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!


Reflexão:
Este poema (“O infante”) foi criado para estabelecer uma relação passado/presente/futuro. Deus quis que os portugueses sonhassem com o descobrimento do mar, fazendo nascer a obra dos descobrimentos.
Os portugueses no passado cumpriram, a missão divina, desvendando os mares desconhecidos e criando o Império. Mas este desfez-se e, no presente, Portugal é uma pátria sem glória que falta “cumprir-se” daí o apelo profético expresso no último verso exclamativo, ao cumprimento do destino mítico do Portugal.


Poemas da 1º parte da mensagem


"Ulisses"

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo --
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.

Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

Reflexão:
Ulisses, o herói da guerra de Tróia e protagonista da obra odisseia de Hómero, é um dos grandes mitos da civilização grega, e segundo a lenda, terá fundado Lisboa. Ao recuperar esta lenda e elege-lo como um dos primeiros poemas da “Mensagem”, Fernando pessoa tem precisamente a intenção de atribuir a Portugal uma origem mítica, que é mais valiosa de que qualquer origem histórica (os heróis desta obra são localizadas sobretudo no seu lado mítico).
Tal como na “Mensagem”, Camões recupera nos Lusíadas a lenda de que Ulisses terá fundando Lisboa.


   "O DOS CASTELOS"

A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto. 

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.

reflexão:
Para Pessoa, Portugal é o rosto da Europa, aquele que “fita” (o verbo fitar aparece três vezes neste pequeno poema, como se de uma verdadeira obsessão europeia e portuguesa se tratasse), o mar ocidental, seu destino, seu futuro (e futura glória e dor, como sabemos e Pessoa reafirmará.




Estrutura da obra "Mensagem"


A Mensagem encontra-se dividida em três partes, cada uma delas subdividida noutras. Esta tripartição é simbólica e tem como base o facto de as profecias se realizarem três vezes, ainda que de modo diferente e tempos diferentes. Corresponde à evolução do Império Português que, tal como o ciclo da vida, passa pelo nascimento, realização e morte. Todavia, esta morte não poderá ser entendida como um fim definitivo, visto que a morte pressupõe uma ressurreição. Esta ressurreição culmina com o aparecimento de um novo império, desta vez não terreno, mas sim espiritual e cultural, a fim de atingir a paz universal ("E a nossa grande Raça partirá em busca de uma índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo de que os sonhos são feitos" - Fernando Pessoa).
Fernando Pessoa, que desejava ser um criador de mitos, apela ao mito sebastianista, à vinda de um messias que viria cumprir Portugal. Assim, o Encoberto (D. Sebastião) foi o escolhido para realizar o sonho do Quinto Império. Esta tarefa só seria cumprida com muita determinação, loucura e sonho que tão bem caracterizam D. Sebastião ("Louco, sim, louco, porque quis grandeza", em “D. Sebastião, Rei de Portugal”).


Cada uma das partes da Mensagem começa com uma expressão latina, adequada à parte simbólica a que pertence. Fernando Pessoa inicia a obra com a expressão latina Benedictus Dominus Deus noster que dedit nobis signum ("Bendito o Senhor Nosso Deus que nos deu o sinal") que nos remete para o carácter simbólico e messiânico da Mensagem.

A 1ª parte - Brasão - faz desfilar os heróis lendários ou históricos, desde Ulisses a D. Sebastião, ora invocados pelo poeta, ora definindo-se a si próprios. O poeta começa por fazer a localização de Portugal na Europa e em relação ao Mundo, salientando a sua magnitude; apresenta a definição de mito (de modo paradoxal, "O mito é o nada que é tudo"), realçando o seu valor na construção da realidade; apresenta ainda o povo português como o construtor do império marítimo, assim como revela os predestinados, responsáveis pela construção do país.


A 2ª parte - Mar Português - apresenta poesias inspiradas na ânsia do Desconhecido e no esforço heróico da luta com o Mar. É nesta parte que o poeta salienta a grandeza do sonho convertido em acção, unificando o acto humano e o Destino traçado por Deus. Surge à cabeça desta parte o poema "O Infante", para vincar a relação entre o poder de Deus na criação, o Homem como agente intermediário e a obra como resultado de toda esta relação lógica ("Deus quer, o homem sonha, a obra nasce"). Os outros poemas evocam as glórias e as tormentas passadas ao concretizar-se o sonho dos Descobrimentos.


A 3ª parte - O Encoberto - apresenta o actual Império moribundo, Portugal baço "a entristecer", pois "Tudo é incerto e derradeiro. / Tudo é disperso, nada é inteiro." (“Nevoeiro”). Face a esta constatação, o poeta considera que chegou a hora de despertarmos para a nossa missão: a constituição de um Quinto Império, um reino de liberdade de espírito e de redenção (“Ó Portugal, hoje és nevoeiro... / É a Hora! ", em "Nevoeiro"). A Mensagem termina com a expressão latina Valete Fratres ("Felicidades, irmãos"), um grito de felicidade e um apelo para que todos lutem por um novo Portugal.

Género Literário


Desde a antiguidade, os géneros literários são conhecidos e geralmente são divididos, segundo Aristóteles, em narrativo, lírico e dramático.

Todas as modalidades literárias são influenciadas pelas personagens, pelo espaço e pelo tempo. Todos os gêneros podem ser não-ficcionais ou ficcionais. Os não-ficcionais representam fielmente a realidade, e os ficcionais inventam um mundo onde os acontecimentos ocorrem coerentemente com o que se passa no enredo da história.


- 1 Género narrativo
- 2 Género lírico
- 3 Género dramático

Sonho de D.Manuel I


D. Manuel I logo que assume o poder pretende dar continuidade aos desejos do seu antecessor, na conquista de novos mares e novas terras. Numa noite sonha com vários mundos, nações de muita gente, estranha e feras e vê dois homens que pareciam muito velhos. estes apresentam-se como "os rios do Ganges e Indo". O sonho prenuncia os êxitos, a fama, o poder e a glória que se cobrirá o Rei por ter conseguido descobrir o Oriente.
Os navegantes e, em especial, o comandante Vasco da Gama, ultrapassam a sua individualidade ou a participação do herói colectivo(povo português).
São símbolo do heroísmo lusíada, do espírito de aventura e da capacidade de vivência cosmopolita.

Durante o sono, o Deus do sonho aparece-lhe (Morfeu)

Engrandecimento do herói:

- Morfeu inicia a apresentação da profecia com o prenuncio positivo de um alto e celeste destino para D. Manuel I, quando se leva no céu, tocando a lua.

- Profecia:
1º -  Vê vários mundos e muita gente estranha
2º - Vê duas fontes no Oriente.

As fontes simbolizam o nascimento de vida, logo o nascimento de um novo império.

Caracterização dos velhos:
Surgem com a cabeça coroada, simbolizando a importância que ambos assumem.
Na decoração da coroa denuncia-se a estranheza dos elementos: ramos e ervas desconhecidas.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Mensagem em interação com "Os Lusíadas"


A Mensagem, cujas poesias componentes foram escritas entre 1913 e 1934, sendo este último o ano da sua publicação, é sem dúvida a obra-prima onde pessoa imprimiu o seu ideal patriótico, sebastianista e regenerador. É uma obra nacional, uma versão moderna, espiritualista e profética de Os Lusíadas.
Esta obra poderá ser vista com uma epopeia, porque parte dum núcleo histórico, mas a sua formulação, sendo simbólica e mítica, do relato histórico, não possuirá a continuidade. Aqui, a acção dos heróis, só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica, e serão apenas eleitos aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos, tendo assim direito à imortalidade.
Nesta obra menciona-se:
. Os antepassados e os fundadores que pela sua acção criaram a pátria, e ergueram a personalidade;
. As Mães, que estão na origem das dinastias, cantadas como “Antigo seio vigilante”, ou “humano ventre do império”;
. Os heróis navegantes, aqueles que percorreram o mar em busca do caminho da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio;
. Na era crepuscular de fim de vida, os profetas, as vozes que anunciam já aquele que viria regenerar a pátria moribunda, abrindo novo ciclo de vida, uma nova era – o Encoberto.

Os Lusíadas:"reflexão do Poeta"


O Poeta faz diversas considerações, no início e no fim dos Cantos da sua epopeia, criticando e aconselhando os Portugueses.
Por um lado, refere os «grandes e gravíssimos perigos», a tormenta e o dano no mar, a guerra e o engano em terra; por outro lado, faz a apologia da expansão territorial para divulgar a Fé cristã, manifesta o seu patriotismo e exorta D. Sebastião a dar continuidade à obra grandiosa do povo português.
Nas suas reflexões, há louvores e diversas queixas aos comportamentos. Se realça o valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio, lamenta, por exemplo, que os Portugueses nem sempre saibam aliar a força e a coragem ao saber e à eloquência, destacando a importância das Letras. Se critica os povos que não seguem o exemplo do povo português que, com atrevimento, chegou a todos os cantos do Mundo, não deixa de queixar-se de todos aqueles que pretendem alcançar a imortalidade, dizendo-lhes que a cobiça, a ambição e a tirania são honras vãs que não dão verdadeiro valor ao homem. Daí, também, lamentar a importância atribuída ao dinheiro, fonte de corrupção e de traições.
Lembrando o seu «honesto estudo», «longa experiência» e «engenho», «Cousas que juntas se acham raramente», confessa estar cansado de «cantar a gente surda e endurecida» que não reconhecia nem incentivava as suas qualidades artísticas.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Velho do Restelo


Quando as naus de Vasco da Gama se despediam do porto de Belém, um ancião, o Velho do Restelo, elevando a voz, manifestou sua oposição à viagem às Índias. A sua fala pode ser interpretada como a sobrevivência da mentalidade feudal, agrária, oposta ao expansionismo e às navegações, que configuravam os interesses da burguesia e da monarquia. É a expressão rigorosa do conservadorismo. Certo é que Camões, mesmo numa epopéia que se propõe a exaltar as Grandes Navegações, dá a palavra aos que se opõem ao projeto expansionista. Portanto, O Velho do Restelo representa a oposição passado x presente, antigo x novo. O Velho chama de vaidoso aqueles que, por cobiça ou ânsia de glória, por sua audácia ou coragem, se lançam às aventuras ultramarinas. Simboliza a preocupação daqueles que anteveem um futuro sombrio para a Pátria.


 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A mitificação do Herói


Nos lusíadas  Camões apresenta os Portugueses como se fossem Deuses. Isto acontece, segundo o autor foi necessário os Deuses reuniram-se no olimpo para decidirem se deixariam ou não que os Portugueses chegassem a Índia. Nesta reunião Vénus e Marte eram a favor do Portugueses, mas baco era contra porque tinha medo que os Portugueses lá chegassem e lhes roubassem o domínio do comercio do Oriente ao colocar os Deuses ao mesmo nível dos portugueses, Camões mitifica-os.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Género Épico


O que é?



A epopeia é um género narrativo em verso, em estilo elevado, que visa celebrar feitos grandiosos de heróis fora do comum reais ou lendários. Tem pois sempre um fundo histórico; de notar que o género épico é um género narrativo e que exige na sua estrutura a presença de uma ação, desempenhada por personagens num determinado tempo e espaço. O estilo é elevado e grandioso e possui uma estrutura própria, cujos principais aspetos são:

Proposição - em que o autor apresenta a matéria do poema;

Invocação - às musas ou outras divindades e entidades míticas protetoras das artes;

Dedicatória - em que o autor dedica o poema a alguém, sendo esta facultativa;

Narração - a ação é narrada por ordem cronológica dos acontecimentos, mas inicia-se já no decurso dos acontecimentos (“in medias res”), sendo a parte inicial narrada posteriormente num processo de retrospetiva, “flash-back” ou “analepse”;

Presença de mitologia greco-latina - contracenando heróis mitológicos e heróis humanos.