segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

• Estrutura interna e estrutura externa de Felizmente há luar


Estrutura Externa

A obra apresenta dois actos, não se encontrando, todavia, dividida em cenas. Referindo-se à organização bipolar da obra, José de Oliveira Barata afirma o seguinte: «Expressando-se dicotomicamente, mas evitando os prejuízos de uma apresentação maniqueísta, Sttau Monteiro transferia para a realidade cénica o verso e o reverso da complexa realidade sociopolítica que o país vivia.»

Estrutura Interna

«Felizmente há luar!» evoca uma época histórica em que ocorre um facto também ele histórico e protagonizado por uma figura histórica: a conspiração abortada de 1817 e na qual se destaca o general Gomes Freire de Andrade.
O conflito da peça nasce da oposição existente entre as “forças do futuro”, cuja figura central e emblemática é o referido General, símbolo da mudança, do progresso, da luta pela liberdade, e as “forças do passado”, representadas por Beresford, Principal Sousa e D. Miguel.
Verifica-se um paralelismo na construção dos dois actos: ambos iniciam com os monólogos patéticos de Manuel «o mais consciencioso dos populares» e símbolo do povo consciente e crítico. No acto I, as falas subsequentes ao monólogo transmitem informações relativas ao contexto histórico e, posteriormente, no acto II, reiterar-se-ão os aspectos já apresentados anteriormente.
Acto I
Acto II
O General está em sua casa, “para os lados do Rato”.(p. 38)
O General está preso no forte de S. Julião da Barra. (p.101)
As forças do poder agem maquiavelicamente, preparando, de uma forma hábil e desleal, a prisão do General.
antipoder/ resistência: confronto entre a sensibilidade e o poder.
Matilde e Sousa Falcão movem esforços no sentido de libertar o General.
clímax atinge-se no diálogo de Matilde e o Principal Sousa.
A execução dos conspiradores, destacando-se a do General, provoca a intensificação da luta contra a opressão do regime absolutista/ salazarista e a vitória da Revolução liberal de 1820/ 25 de Abril de 1974.
A acção dramática concentra-se predominantemente na esfera político-social.
A acção dramática situa-se predominantemente na esfera doíntimo e afectivo.
Predomínio de personagens da esfera do político-social e do exterior.
Os governantes, as vozes mais marcantes do poder: D. Miguel Forjaz, o representante da nobreza/ absolutismo; marechal Beresford, o representante do domínio britânico sobre Portugal; Principal Sousa, o representante do clero/ Igreja.
Os populares, «o pano de fundo permanente da peça», anseiam e lutam por uma sociedade mais justa e mais livre; procuram alguém que os liberte da «protecção» dos ingleses e da tirania da regência,, considerando o General o único capaz de concretizar os seus objectivos. Destacam-se Manuel, Rita e o Antigo Soldado.
Predomínio de personagens que se relacionam com o universo afectivo de Gomes Freire, o verdadeiro protagonista e elemento de ligação de toda a obra: a resistência e sensibilidade manifestam-se em Matilde de Melo e Sousa Falcão, que tentam salvar o General e obter o seu perdão. Frei Diogo, o confessor do General, é o oposto do Principal Sousa.
povo encontra-se desanimado e sente que a luta está perdida, parecendo que ainda estão pior do que antes.
Os traidores do povo, Vicente, Andrade Corvo, Morais Sarmento e as forças da ordem, dois polícias, são os oponentes do povo, pois não revelam escrúpulos e são hipócritas. Denunciam a conjura e contribuem para a prisão e posterior execução do General.
As forças da ordem assumem o papel de defensores da ordem pública e dispersam o povo.
Destaca-se a figura de Vicente, provocador, agitador, delator, espião e acusador. O seu objectivo é denegrir a imagem de prestígio do General, vigia a sua casa e confirma a existência de reuniões, indicando o nome dos conspiradores. Denuncia o General, uma vez que é ambicioso e espera obter uma recompensa.
Vicente é recompensado pelo seu acto e assume novas funções como chefe da polícia.
O acto termina com a decisão de fazer matar o General.
“A apoteose trágica” – o quadro final: a execução do General e o “hino de louvor” à coragem e à ousadia. A revolta e a tristeza dão lugar à esperança num futuro melhor. Matilde afirma que «Felizmente há luar!», devendo a luz vencer a escuridão, a noite e a opressão.

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