Estrutura Externa
A obra apresenta dois actos, não
se encontrando, todavia, dividida em cenas. Referindo-se à organização bipolar
da obra, José de Oliveira Barata afirma o seguinte: «Expressando-se
dicotomicamente, mas evitando os prejuízos de uma apresentação maniqueísta,
Sttau Monteiro transferia para a realidade cénica o verso e o reverso da
complexa realidade sociopolítica que o país vivia.»
Estrutura Interna
«Felizmente há luar!» evoca uma
época histórica em que ocorre um facto também ele histórico e protagonizado por
uma figura histórica: a conspiração abortada de 1817 e na qual se destaca o
general Gomes Freire de Andrade.
O conflito da peça nasce da
oposição existente entre as “forças do futuro”, cuja figura central e
emblemática é o referido General, símbolo da mudança, do progresso, da luta
pela liberdade, e as “forças do passado”, representadas por Beresford,
Principal Sousa e D. Miguel.
Verifica-se um paralelismo na
construção dos dois actos: ambos iniciam com os monólogos patéticos de Manuel
«o mais consciencioso dos populares» e símbolo do povo consciente e crítico. No
acto I, as falas subsequentes ao monólogo transmitem informações relativas ao
contexto histórico e, posteriormente, no acto II, reiterar-se-ão os aspectos já
apresentados anteriormente.
Acto I
|
Acto II
|
O General está em sua casa, “para
os lados do Rato”.(p. 38)
|
O General está preso no forte de
S. Julião da Barra. (p.101)
|
As forças do poder agem
maquiavelicamente, preparando, de uma forma hábil e desleal, a prisão do
General.
|
O antipoder/
resistência: confronto entre a sensibilidade e o poder.
Matilde e Sousa Falcão movem
esforços no sentido de libertar o General.
O clímax atinge-se
no diálogo de Matilde e o Principal Sousa.
A execução dos conspiradores,
destacando-se a do General, provoca a intensificação da luta contra a
opressão do regime absolutista/ salazarista e a vitória da Revolução liberal
de 1820/ 25 de Abril de 1974.
|
A acção dramática concentra-se
predominantemente na esfera político-social.
|
A acção dramática situa-se
predominantemente na esfera doíntimo e afectivo.
|
Predomínio de personagens da
esfera do político-social e do exterior.
Os governantes,
as vozes mais marcantes do poder: D. Miguel Forjaz, o representante da
nobreza/ absolutismo; marechal Beresford, o representante do domínio
britânico sobre Portugal; Principal Sousa, o representante do clero/ Igreja.
Os populares,
«o pano de fundo permanente da peça», anseiam e lutam por uma sociedade mais
justa e mais livre; procuram alguém que os liberte da «protecção» dos
ingleses e da tirania da regência,, considerando o General o único capaz de
concretizar os seus objectivos. Destacam-se Manuel, Rita e o Antigo Soldado.
|
Predomínio de personagens que se
relacionam com o universo afectivo de Gomes Freire, o verdadeiro protagonista
e elemento de ligação de toda a obra: a resistência e sensibilidade
manifestam-se em Matilde de Melo e Sousa Falcão, que
tentam salvar o General e obter o seu perdão. Frei Diogo, o confessor do
General, é o oposto do Principal Sousa.
O povo encontra-se
desanimado e sente que a luta está perdida, parecendo que ainda estão pior do
que antes.
|
Os traidores do povo,
Vicente, Andrade Corvo, Morais Sarmento e as forças da ordem, dois polícias,
são os oponentes do povo, pois não revelam escrúpulos e são hipócritas.
Denunciam a conjura e contribuem para a prisão e posterior execução do
General.
|
As forças da ordem assumem
o papel de defensores da ordem pública e dispersam o povo.
|
Destaca-se a figura de Vicente,
provocador, agitador, delator, espião e acusador. O seu objectivo é denegrir
a imagem de prestígio do General, vigia a sua casa e confirma a existência de
reuniões, indicando o nome dos conspiradores. Denuncia o General, uma vez que
é ambicioso e espera obter uma recompensa.
|
Vicente é recompensado pelo seu
acto e assume novas funções como chefe da polícia.
|
O acto termina com a decisão de fazer
matar o General.
|
“A apoteose trágica” –
o quadro final: a execução do General e o “hino de louvor” à coragem e à
ousadia. A revolta e a tristeza dão lugar à esperança num futuro melhor.
Matilde afirma que «Felizmente há luar!», devendo a luz vencer a escuridão, a
noite e a opressão.
|
Sem comentários:
Enviar um comentário