"Ulisses"
O mito é o nada que é
tudo.
O mesmo sol que abre os
céus
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser
existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi
vindo
E nos criou.
Assim a lenda se
escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida,
metade
De nada, morre.
Reflexão:
Ulisses, o herói da
guerra de Tróia e protagonista da obra odisseia de Hómero, é um dos grandes
mitos da civilização grega, e segundo a lenda, terá fundado Lisboa. Ao
recuperar esta lenda e elege-lo como um dos primeiros poemas da “Mensagem”,
Fernando pessoa tem precisamente a intenção de atribuir a Portugal uma origem
mítica, que é mais valiosa de que qualquer origem histórica (os heróis desta
obra são localizadas sobretudo no seu lado mítico).
Tal como na “Mensagem”,
Camões recupera nos Lusíadas a lenda de que Ulisses terá fundando Lisboa.
"O
DOS CASTELOS"
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
reflexão:
Para Pessoa, Portugal é o rosto da Europa, aquele que “fita”
(o verbo fitar aparece três vezes neste pequeno poema, como se de uma
verdadeira obsessão europeia e portuguesa se tratasse), o mar ocidental, seu
destino, seu futuro (e futura glória e dor, como sabemos e Pessoa reafirmará.
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